15.8.10

VER E NÃO VER EIS A QUESTÃO


Você pode olhar e não ver. Ver e não ser visto. A visibilidade não depende do objeto ou do ser humano presente no raio de alcance de nossos olhos. Por melhor que seja nossa visão, no fundo somos todos de alguma forma cegos. Ou porque somos treinados a ver apenas aquilo que não nos agride e interessa ou porque nos recusamos inconscientemente a ver o que não faz parte do nosso limitado universo imaginário. De qualquer forma somos incapazes de ver a totalidade, enxergamos parcialmente o outro e a nós mesmos, a vida dos outros e as nossas. E porque essa invisibilidade não é óbvia, ela não é percebida, não é tratada como doença ou algo a ser curado, podemos passar a vida sem nunca desconfiar dela. Nascer, viver o tempo que nos é dado para viver, e morrer, sem enxergar a totalidade. Mas se de alguma maneira você compreender essa invisibilidade, vai sentir muita dor. Uma dor diferente, imune a analgésicos ou cirurgias corretivas. A dor da consciência, do saber-se invisível e de perceber-se da mesma forma limitado para enxergar a totalidade do outro.

Fui assistir “Orly”, filme de produção franco alemã feito por uma diretora alemã chamada Ângela Schanelec. O cenário é o aeroporto de Orly e narra quatro histórias diferentes e independentes mas que tem uma linha condutora em comum. Todas elas falam das relações entre essas pessoas, dos pequenos segredos que as unem e separam. O filme tem um ritmo lento, foi filmado como se os atores não estivessem atuando para que você não consiga distinguir os atores entre as pessoas comuns. A diretora os filmou no meio dos outros viajantes tornando-o ainda mais realista, e nos coloca na posição de voyeurs, sua câmera brinca buscando os atores e é a partir dos diálogos que somos inseridos em suas histórias pessoais. O hall do aeroporto e as salas de embarque funcionam como um limbo, um lugar onde a história dessas pessoas entra em posição de espera. Esses trechos das vidas dos personagens que nos é oferecido são como pequenos contos, quase todos sem graça e que ganham força tão somente pela interpretação desses atores. Um filme que só não é chato porque é bem feito do ponto de vista técnico, mas que proporciona pouquíssimo prazer.

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