19.8.10

CHANTILLY, PLACEBOS E APARÊNCIAS

Daqui, pelos sites do Uol e da Folha, eu tenho acompanhado as notícias sobre as eleições no Brasil. Faço um esforço danado para levar Dilma e Serra, os dois que realmente tem chance de ganhar as eleições presidências no país, a sério, mas não consigo. Sou ao mesmo tempo jovem e velho, gosto de pessoas que tem algo para dizer, mas sou muito atento ao conteúdo, no que está dentro do pacote de design aparentemente diferente que querem me vender. A ausência de expressão dos dois me desanima, e isso fica mais evidente quando eu os escuto falar. Na voz dos dois percebo o placebo que querem que eu engula. São vozes ocas que combinam com seus rostos frios e posturas físicas ensaiadas. Nenhum deles me convence de nada, muito menos de suas boas intenções. E se você me acusa de ser ingênuo eu protesto. Porque não vou me resignar, como a maioria das pessoas que conheço, e fingir que não sei que por trás dos dois há dois rolos compressores da mesma marca que querem o poder para garantir suas estruturas partidárias, alicerçadas muito menos por ideais que pela manutenção de sua “conquistas”. Não vou votar nesses ventríloquos. Nem na Marina, que talvez ainda tenha um pouco mais de vergonha na cara e por isso mesmo se mostre insegura, mas que me decepciona por suas idéias retrógradas sobre homossexualidade e aborto. Quando vou tomar um café com chantilly, quero chantilly batido com a mão, sei diferenciar chantilly de latinha tipo creme de barbear do chantilly caseiro.

Tenho acompanhado também a Bienal do Livro que está acontecendo no Brasil. Li alguns artigos e reportagens sobre literatura feita no twitter. Não acredito que se faça literatura no twitter. Literatura para mim exige o mínimo de reflexão de quem a produz. Gosto de contos curtos, mas a concisão de um conto também tem a ver com a reflexão do escritor e sua aptidão para contar histórias em poucas palavras. Talvez o twitter possa servir de exercício para quem gosta de escrever e pretende ser escritor, como um tubo de ensaio de projeção. Acredito mesmo assim, que se possa narrar uma boa história com apenas 140 caracteres. Não é o tamanho do texto que vai definir sua qualidade, mas a pré gestação dele é condição para qualificá-lo. A velocidade do twitter muito provavelmente não permite a quem o utiliza com a pretensão de fazer literatura, o mínimo de tempo necessário para se pensar sobre o texto, e acredito também que ao leitor do twitter o tempo de reflexão é escasso. A pressa em descobrir outros textos e de escrever outras historinhas ainda mais interessantes para se conseguir um número ainda maior de seguidores é a característica de quem usa esse meio. Literatura é arte que tem como base a reflexão tanto por parte do escritor como por parte do leitor, não é competição. O tempo que se acredita estar ganhando, na verdade é tempo perdido.



Um comentário:

Lícia disse...

Esse chantilly tem que ser batido com as mãos bem limpinhas.
ai, ai...