O estrangeiro que mora dentro de cada um de nós só ganha vida e visibilidade fora de casa. Antes disso, ele dorme o sono dos inocentes e sonha com mundos que só existem dentro de sua mente imaculada. A vulnerabilidade e a fragilidade desse ser que a gente pensava conhecer se tornam conscientes quando ele desperta. Querendo ou não, quando olhamos o estrangeiro que está do lado de fora, e que por sua vez interage com a gente pela perspectiva de quem pensa não ser estrangeiro, estamos também olhando para dentro de nós. O ser humano, guardadas as características culturais que nos diferenciam uns dos outros, é na essência igual. A primeira impressão é a da diferença, cor da pele, idioma, cheiro, alimentação, formas de organização social e etc., mas a descoberta das semelhanças que nos aproximam e nos fazem pertencer a mesma espécie de seres primitivos fica evidente. Principalmente quando observamos o lado mais feio do outro, aquele lado que gostamos de afirmar que não existe em nós. Dessa forma, com a capacidade e o conhecimento de um não antropólogo e de um não filósofo, ou se preferirem de um cientista vagabundo, mas por outro lado com a experiência de quem invariavelmente está sempre observando o outro e a si mesmo, cheguei a conclusão de que somos todos, independente de raça, credo, posição social, nacionalidade, sexo e outras coisas que quiserem incluir na lista de qualificação da variedade humana, peças de um jogo do tipo playstation ou coisa parecida com o qual os deuses lá em cima adoram brincar. O jogo começa com todo mundo com os olhos vendados, sem lado bom nem lado ruim, o grau de dificuldade do divertimento dos deuses vai aumentando a partir do momento em que alguns a duras penas começam a enxergar. As peças dos jogos (que somos nós) não ganham nem perdem, estão condenadas a jogar até a morte. A jogo tem como ponto alto a descoberta da consciência, as peças não ganham nada com isso, a consciência não lhes garante nada, não salva nenhuma de nada, elas apenas tem consciência de que são de alguma forma manipuladas por esses deuses. Só os deuses é que se divertem com a coisa. A começar pelo direito de escolherem algumas peças com as quais eles vão poder fazer todas as experiências que quiserem. E jogar para os deuses quer dizer muito, como por exemplo, condenarem algumas ao limbo e a escuridão, ou privilegiar outras de todas as regalias e vantagens da vida no planeta. Por exemplo, os deuses podem fazer essas peças pensarem que são importantes, que podem tudo, que são semi deuses porque são belos, ou porque são ricos e portanto poderosos, ou porque são talentosos ou ainda intelectualmente mais capazes, ou simplesmente uma mistura de tudo isso. Os deuses se divertem muito com essas peças, deixam elas pensarem que podem tudo, que mereceram a suposta superioridade porque fazem parte de uma casta denominada “os escolhidos” passada de geração a geração por hereditariedade. E se divertem também com as outras que se acham desgraçadas, que vivem mendigando compaixão enquanto poderiam fazer alguma coisa para sair do estado de mendicância. A graça do jogo está exatamente no fato de que tanto a vida de uns como a dos outros está limitada aos seus estados de consciência, que por sua vez estão diretamente ligados ao tempo em que as peças ficaram com os olhos vendados. Os deuses quase se matam de rir quando percebem que algumas peças preferem ter os olhos vendados a vida inteira a fazerem suas próprias escolhas. Fazem apostas entre eles, castigam as peças de tanta raiva que sentem de seus medos e preguiças, enfim, é difícil por ordem na casa nesses momentos porque a bagunça é generalizada, mas normalmente eles se mostram generosos com as peças mais atrevidas. Enchem elas de presentinhos e mimos, e proporcionam a elas momentos de satisfação que as outras peças, nem as do grupo dos “escolhidos” nem as que vivem mendigando conhecem. No fundo os deuses adoram as rebeldes, aquelas que arrancam as vendas dos olhos e os maldizem, preferem as peças que os desafiam as que vivem perguntam a si mesmas o que fizeram para merecerem a vida que tem. Mais ou menos assim deve funcionar esse jogo que serve apenas para divertir os deuses. Enquanto isso a gente faz a nossa parte acreditando que é possível dividir o mundo entre bons e maus, ricos e pobres, trabalhadores e vagabundos, belos e feios, espertos e azarados, estrangeiros e não estrangeiros.
21.8.10
ESTRANGEIROS
O estrangeiro que mora dentro de cada um de nós só ganha vida e visibilidade fora de casa. Antes disso, ele dorme o sono dos inocentes e sonha com mundos que só existem dentro de sua mente imaculada. A vulnerabilidade e a fragilidade desse ser que a gente pensava conhecer se tornam conscientes quando ele desperta. Querendo ou não, quando olhamos o estrangeiro que está do lado de fora, e que por sua vez interage com a gente pela perspectiva de quem pensa não ser estrangeiro, estamos também olhando para dentro de nós. O ser humano, guardadas as características culturais que nos diferenciam uns dos outros, é na essência igual. A primeira impressão é a da diferença, cor da pele, idioma, cheiro, alimentação, formas de organização social e etc., mas a descoberta das semelhanças que nos aproximam e nos fazem pertencer a mesma espécie de seres primitivos fica evidente. Principalmente quando observamos o lado mais feio do outro, aquele lado que gostamos de afirmar que não existe em nós. Dessa forma, com a capacidade e o conhecimento de um não antropólogo e de um não filósofo, ou se preferirem de um cientista vagabundo, mas por outro lado com a experiência de quem invariavelmente está sempre observando o outro e a si mesmo, cheguei a conclusão de que somos todos, independente de raça, credo, posição social, nacionalidade, sexo e outras coisas que quiserem incluir na lista de qualificação da variedade humana, peças de um jogo do tipo playstation ou coisa parecida com o qual os deuses lá em cima adoram brincar. O jogo começa com todo mundo com os olhos vendados, sem lado bom nem lado ruim, o grau de dificuldade do divertimento dos deuses vai aumentando a partir do momento em que alguns a duras penas começam a enxergar. As peças dos jogos (que somos nós) não ganham nem perdem, estão condenadas a jogar até a morte. A jogo tem como ponto alto a descoberta da consciência, as peças não ganham nada com isso, a consciência não lhes garante nada, não salva nenhuma de nada, elas apenas tem consciência de que são de alguma forma manipuladas por esses deuses. Só os deuses é que se divertem com a coisa. A começar pelo direito de escolherem algumas peças com as quais eles vão poder fazer todas as experiências que quiserem. E jogar para os deuses quer dizer muito, como por exemplo, condenarem algumas ao limbo e a escuridão, ou privilegiar outras de todas as regalias e vantagens da vida no planeta. Por exemplo, os deuses podem fazer essas peças pensarem que são importantes, que podem tudo, que são semi deuses porque são belos, ou porque são ricos e portanto poderosos, ou porque são talentosos ou ainda intelectualmente mais capazes, ou simplesmente uma mistura de tudo isso. Os deuses se divertem muito com essas peças, deixam elas pensarem que podem tudo, que mereceram a suposta superioridade porque fazem parte de uma casta denominada “os escolhidos” passada de geração a geração por hereditariedade. E se divertem também com as outras que se acham desgraçadas, que vivem mendigando compaixão enquanto poderiam fazer alguma coisa para sair do estado de mendicância. A graça do jogo está exatamente no fato de que tanto a vida de uns como a dos outros está limitada aos seus estados de consciência, que por sua vez estão diretamente ligados ao tempo em que as peças ficaram com os olhos vendados. Os deuses quase se matam de rir quando percebem que algumas peças preferem ter os olhos vendados a vida inteira a fazerem suas próprias escolhas. Fazem apostas entre eles, castigam as peças de tanta raiva que sentem de seus medos e preguiças, enfim, é difícil por ordem na casa nesses momentos porque a bagunça é generalizada, mas normalmente eles se mostram generosos com as peças mais atrevidas. Enchem elas de presentinhos e mimos, e proporcionam a elas momentos de satisfação que as outras peças, nem as do grupo dos “escolhidos” nem as que vivem mendigando conhecem. No fundo os deuses adoram as rebeldes, aquelas que arrancam as vendas dos olhos e os maldizem, preferem as peças que os desafiam as que vivem perguntam a si mesmas o que fizeram para merecerem a vida que tem. Mais ou menos assim deve funcionar esse jogo que serve apenas para divertir os deuses. Enquanto isso a gente faz a nossa parte acreditando que é possível dividir o mundo entre bons e maus, ricos e pobres, trabalhadores e vagabundos, belos e feios, espertos e azarados, estrangeiros e não estrangeiros.
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