10.12.04

ENGRAÇADINHA.






Ela acha graça em tudo. Qualquer piada, qualquer quadrinho
de televisão medíocre, e até a visão de alguém que escorrega
e cai na rua é o suficiente para fazê-la rir. No começo, ele estranhou,
mas depois, tomado pelo amor que sentia por ela, esforçou-se
para achar graça das idiotices sem graça que a faziam rir. O tempo passou.
Eles se tornaram íntimos. E por consequência dessa intimidade
passaram a conhecer um o outro. Precisou de tempo para digerir
essa diferença. Auto-crítico, apontou o dedo contra o próprio
peito acusando-se de sem graça. Depois aceitou. Isto é,
aceitou que fosse diferente mesmo, e, talvez, sem graça.
Alheia ao dilema do amigo, ela continuou achando graça de tudo.
Ele desistiu de esforçar-se para achar graça das idiotices sem
graça dela. Cansou-se. Achou tudo estúpido demais.
Recusou-se a abrir um sorriso para qualquer bobagem.
Por esse motivo, ele preferiu terminar.
E disse a ela que não via mais graça em estarem juntos.
Ela continua achando graça de tudo.
Ele continua a esforçar-se para rir.

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