22.12.04

NÃO SEI. TALVEZ. NÃO ME PERGUNTEM.








Já havia ouvido falar sobre lêmures, mas
nunca tinha visto um. Ou melhor, não acreditava
que eles realmente pudessem existir. Até ontem
quando me sentei em frente a um deles, dentro do
vagão do metrô. Não era anão, mas com certeza
não passava de 1 metro e ½ de altura.
Olhos enormes saltados para fora,
inquieto e olhando para todos os lados ao mesmo tempo,
ininterruptamente ele enfiou goela abaixo uma quantidade
incalculável de biscoitos de polvilho. Numa rapidez
impressionante, devorou centenas de rodelinhas de biscoito
que retirava de vários sacos plásticos.
E os sacos, retirava-os também de dentro de outros sacos,
que ele também retirava de dentro de um enorme saco.
Como um mágico que faz aparecer coelhos de dentro
de uma cartola. Quando levantei-me para descer,
ele me acompanhou .
Caminhamos em silêncio e lado a lado até a saída
do buraco do metrô. Assim que alcançamos a rua ele
desapareceu repentinamente.
Procurei-o por todos os lados e não o encontrei.
Essa madrugada acordei assustado.
Tive a impressão de tê-lo visto
no meu quarto. Não senti medo. Ele corria
de um lado para outro e depois desapareceu novamente.
Corri ao supermercado essa manhã e comprei alguns
sacos de biscoito de polvilho. Deixei-os a vista, na cozinha,
na sala, enfim, em todos os recintos do meu apartamento.
Talvez ele sinta fome. Talvez ele os devore porque
precise apenas dos sacos vazios.


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