Desde que as bolsas começaram a cair tenho ouvido muita gente falar e opinar sobre crise econômica. Nunca gostei do tema economia. O caderno econômico é o último que pego para ler no jornal, e mesmo assim, dou uma folheada e largo. Acho o assunto chato, empolado e virtual. Tenho a impressão que os economistas estão sempre apostando em alguma coisa que está condicionada a uma outra coisa, e que essa outra coisa é decorrência de algo que não aconteceu e que poderá acontecer se a conjuntura acompanhar a tendência mundial que é totalmente dependente dos movimentos regionais. Não. Ainda não enlouqueci. Na verdade acho que loucos são eles que tentam nos explicar alguma coisa que eles mesmo não dominam. Sei que a economia mundial está interligada em razão da globalização, e que o emprego de muita gente depende do crescimento ou pelo menos da manutenção dela. Mas sinceramente a economia não me interessa, mesmo sabendo que sou afetado diretamente por ela, e que posso ser o próximo. E também não acho que o Barack Obama vai ser o salvador da pátria. Acho que o buraco é mais embaixo. O nosso pelo menos é aqui no hemisfério sul, abaixo da linha do equador e portanto historicamente escolado para sobreviver as desvantagens que a política econômica dos países ricos nos impõe. Outro pensamento que venho ouvindo é o de que a crise vai nos fazer repensar sobre os porquês de termos chegado a esse ponto e então teremos a chance de reconstruir sociedades mais justas. Há, há, há. Não acredito em prognósticos messiânicos e muito menos em economistas messiânicos. Se são tão inteligentes e capazes de prever e gerir, por que então não fizeram nada antes? Ora, ora, não fizeram porque até agora estavam lucrando com toda a coisa. E é isso que importa no universo deles, tirar vantagem de uma situação. Se aposta muito, mas enquanto os valores das apostas sobem ou descem a engrenagem continua sendo lubrificada para não parar de funcionar. Então vou continuar a não fazer a menor questão de ler o que eles escrevem nos cadernos de economia. Vou guardá-los como faço desde que minha mãe adotou uma cachorrinha chamada Pupi: ela é tão mal acostumada que só faz suas necessidades sobre eles.
29.11.08
PUPI, A ECONOMISTA
Desde que as bolsas começaram a cair tenho ouvido muita gente falar e opinar sobre crise econômica. Nunca gostei do tema economia. O caderno econômico é o último que pego para ler no jornal, e mesmo assim, dou uma folheada e largo. Acho o assunto chato, empolado e virtual. Tenho a impressão que os economistas estão sempre apostando em alguma coisa que está condicionada a uma outra coisa, e que essa outra coisa é decorrência de algo que não aconteceu e que poderá acontecer se a conjuntura acompanhar a tendência mundial que é totalmente dependente dos movimentos regionais. Não. Ainda não enlouqueci. Na verdade acho que loucos são eles que tentam nos explicar alguma coisa que eles mesmo não dominam. Sei que a economia mundial está interligada em razão da globalização, e que o emprego de muita gente depende do crescimento ou pelo menos da manutenção dela. Mas sinceramente a economia não me interessa, mesmo sabendo que sou afetado diretamente por ela, e que posso ser o próximo. E também não acho que o Barack Obama vai ser o salvador da pátria. Acho que o buraco é mais embaixo. O nosso pelo menos é aqui no hemisfério sul, abaixo da linha do equador e portanto historicamente escolado para sobreviver as desvantagens que a política econômica dos países ricos nos impõe. Outro pensamento que venho ouvindo é o de que a crise vai nos fazer repensar sobre os porquês de termos chegado a esse ponto e então teremos a chance de reconstruir sociedades mais justas. Há, há, há. Não acredito em prognósticos messiânicos e muito menos em economistas messiânicos. Se são tão inteligentes e capazes de prever e gerir, por que então não fizeram nada antes? Ora, ora, não fizeram porque até agora estavam lucrando com toda a coisa. E é isso que importa no universo deles, tirar vantagem de uma situação. Se aposta muito, mas enquanto os valores das apostas sobem ou descem a engrenagem continua sendo lubrificada para não parar de funcionar. Então vou continuar a não fazer a menor questão de ler o que eles escrevem nos cadernos de economia. Vou guardá-los como faço desde que minha mãe adotou uma cachorrinha chamada Pupi: ela é tão mal acostumada que só faz suas necessidades sobre eles.
28.11.08
NA PONTA DOS DEDOS
Em Setembro quando fui ao Rio para o lançamento do “Contos Indiscretos”, ganhei de um amigo francês um DVD duplo sobre a trajetória vida/obra do pianista russo Slatoslav Richter. Quando penso na hipótese de reencarnação e outras vidas depois desta, penso que na próxima “encadernação” eu quero nascer pianista. Tenho fascínio pelo instrumento e pelo som do piano. Estudei piano quando criança, depois quando já adulto voltei a estudar e desisti quando percebi que não tenho o menor talento para a coisa. Até toco algumas peças, mas prefiro poupar os amigos e vizinhos e a mim mesmo do sofrimento. Tive a feliz oportunidade de assistir duas apresentações do Richter quando morava na Áustria. Numa delas ele exigiu que todo o teatro e também no palco as luzes fossem apagadas. Ficou apenas um pequeno foco de luz em cima da partitura. Ele defende a teoria que o público tem apenas que ouvir a música. Para ele, essas nossas vontades de ver as mãos do pianista ou o rosto retorcido pelas emoções, não são importantes. Os filmes mostram desde seus primeiros passos em Odessa até o ano de sua morte em 1998. Imagine quanta riqueza de histórias que um homem que nasceu em 1915, filho de pai de origem alemã e mãe russa, que vivenciou a primeira e a segunda guerra, a era Stalin, regime comunista na União Soviética tem para contar. O filme todo é costurado por suas opiniões, ele aparece já bem velho, falando russo sua língua natural, conversando com o entrevistador (que a gente não vê), vestido de maneira simples, magro, de barba por fazer. Ele fala de sua origem, família, preferências musicais, outros pianistas, tem gravações históricas dele tocando com o violinista Oistrach e o cellista Rostropovich, ou acompanhando o barítono Fischer Diskau. Mas o que me impressionou muito foi essa dureza que ele tinha na alma e que se traduzia no rosto quase sempre rígido. Homem de emoções controladas, muito exigente consigo mesmo. Quando se apresentou nos EUA pela primeira vez e foi exaltado pelos críticos e imprensa, ele disse que naquelas apresentações ele tocou muito mal e que não aceitaria a opinião da crítica americana porque eles não entendiam nada. Até o final da vida o que fez foi exigir de si próprio a proximidade do que imaginava ser a perfeição. Dizia por exemplo que não havia encontrado o “ponto” certo para tocar a música de Mozart. Fiquei pensando sobre isso, e acho que sua rigidez batia de frente com a leveza do compositor austríaco. Leveza essa que na prática está longe de ser verdadeira se você se propuser a interpretá-lo. Tocou em muitos enterros e cerimônias fúnebres, como por exemplo no funeral do Stálin (com quem ele não simpatizava). O que me fascinou na sua personalidade sisuda foi perceber que ele construiu sua carreira respeitando os limites éticos e morais que ele havia imposto a si mesmo. Essa secura e precisão contidas em sua maneira de conduzir a vida podem ser percebidas nas suas gravações, e eu acho que isso servia apenas para ele manter sob controle o universo de emoções conflituosas que ele tinha dentro dele. E que graças a Deus vazaram através das pontas dos seus dedos.
26.11.08
PODRES E SENSATOS
Durou quase três anos, com muitas variações de humor, emoções, dores nas costas, prazer, algumas noites de insônia, o ponto final veio ontem. Conclui o romance que estava escrevendo. O título ainda provisório é “Podres e Sensatos”. De agosto até ontem, fiz inúmeras revisões e deixei ele descansando no barril de carvalho, amadurecendo, para desenvolver o sabor das frutas e só depois chegar pronto para ser consumido. Agora imprimi, e vou passar para duas ou três pessoas que considero confiáveis e respeito para ouvir o que pensam. Se criei um bicho já pronto, com todos os membros no lugar, ou se preciso fazer algumas intervenções. Parte difícil, mas essencial. Gosto do que vem agora. Da lapidação, até deixar o texto sequinho e digno da publicação. Como diz o Antonio Lobo Antunes, escrever é muito difícil. Não acho que é bobagem dizer isso, é difícil sim, porque mexe com a gente tanto física como emocionalmente. Mesmo assim, não gostaria de fazer outra coisa. Gosto de escrever e de tudo que envolve o ofício.
25.11.08
Me gusta leer
PARA OUVIDOS E OLHOS
Fazia muito, muito ,muito tempo que não assistia um bom espetáculo no Municipal. “Sansão e Dalila” do Camille Saint-Saëns é uma das óperas que mais gosto dentre as óperas do repertório francês. Porque é rica em todos os aspectos que uma ópera deve conter para ser lembrada como uma grande obra. A começar pelo libreto baseado num trecho bíblico. O povo de Israel prisioneiro dos filisteus que será libertado por um sujeito abençoado por Deus e tem toda sua força concentrada nos seus cabelos. Depois o sujeito poderoso que libertou todo seu povo sendo seduzido por uma mulher, que não é judia, mas exatamente do meio daqueles que até então eram seus opressores. E também a concepção que Saint-Saëns fez para apresentar sua obra: generoso espaço para os coros, tenores e barítonos podem expor suas vozes em diálogos/árias, e meio-sopranos (que eu prefiro às vozes muito agudas das sopranos) que tem a chance de demonstrar todo o seu talento como atrizes e cantoras. O espetáculo que o Municipal está apresentando é muito bem dirigido e produzido. Os cenários (de Helio Eichbauer) são de uma beleza e soluções primorosas. Os figurinos (com exceção das jovens filistéias que mais parecem sevilhanas) são leves e de cores muito bem combinadas. Para mim nessa montagem um ponto negativo foi que em alguns momentos, como por exemplo quando Dalila recebe Sansão e está tentando seduzi-lo, a luz frontal do palco poderia ter sido menos intensa, para contribuir com o clima/ambiente convidativo/vingativo. As vozes: nota máxima para Denise de Freitas (Dalila), perfeita, comovente como Dalila, sabe se mexer no palco e conseguiu me emocionar na ária “mon coeur s’ouvre à toi voix”. A propros essa ária, fiquei pensando com os meus botões; uma ária que tenta convencer um homem do amor de uma mulher, com um apelo emocional extraordinário, mas que no fundo é uma farsa, Dalila na verdade com seu belo canto está trazendo Sansão para a sua desgraça, para sua perdição. O Sansão ( na apresentação que eu vi, Marcello Vanucci) tem uma voz muito boa, mas deve aprender a dominar seus gestos para caracterizar melhor o personagem, por vezes muito duro, gestos abruptos, quase caricato. Sumo Sacerdote (Leonardo Neiva) muito bom. Abimelech (Lucas Debevec ) muito bom. Coro perfeito. Acho que me empolguei, mas é tão raro uma boa ópera em São Paulo que eu quis falar um pouco e recomendar. Sem pretensão, apenas minha visão crítica do que assisti. No todo, foi um prazer. Para quem não gosta de ópera, tem um filme, dirigido e produzido por Cecil B. Demille, com o Victor Mature fazendo o Sansão, que é bem legal de assistir, sessão da tarde, clássico.
24.11.08
ÚLTIMAS PÁGINAS.
Terminar de ler um bom livro é muito diferente de apenas terminar de ler um livro. É parecido com quando você sai da sala de cinema onde passou aproximadamente duas horas se emocionando com o filme que estava assistindo, e carrega dentro da alma a emoção até sua casa. Quando você acaba de ler a última página, o coração entristece um pouco, porque já começa a sentir saudades de todos aqueles personagens que te ensinaram a ver as coisas de um outro jeito, te emocionaram e fizeram você refletir sobre sua própria vida. A convivência com eles é por vezes muito mais real do que a que temos com pessoas com quem convivemos na vida real. Saber que chegou a hora de me separar daqueles personagens e de suas vidas, é difícil. Um pouco como uma ressaca boa, se é que ela existe. Foi assim que me senti quando fechei o livro da Siri Hustvedt ontem de manhã. “O que eu amava” demorou para fazer parte do meu dia a dia, mas depois que entrou me chamava toda hora para ele. Parecia me dizer, olha para mim, olha para mim, leia em minhas páginas o que eu tenho para te dizer, tenho mais para te dizer, vem para mim. Gosto dos livros que me levam a pensar sobre mim, que não contam apenas histórias, mas que me convidam a participar e fazer parte das vidas de seus personagens. Quem sou, por que sou, também sou, o que posso fazer, o que não posso, também penso assim, sinto muito, choro, dou risada. Fecho a última página e me sinto um pouco mais completo, mais preenchido depois de ter convivido com ele.
Hoje tem uma crônica muito bem escrita do sociólogo e agora colunista José de Souza Martins na última página do caderno Cidade/Metrópolis do Estadão. Compartilho do seu ponto de vista sobre os modos de como o cidadão paulistano aprende a ver sua cidade. Ele as dividiu em quatro: os pedestres, os que trafegam de ônibus, metrô ou trem, os que circulam de automóvel, e por último os que sobrevoam a cidade com seus helicópteros. As descrições estão no artigo, não vou reproduzi-las aqui, mas se puderem dar uma lida, é curta, objetiva e inteligente.
22.11.08
A PALAVRA DE CADA UM
Fui assistir ao debate/encontro dos escritores Menalton Braff e Murilo Carvalho intermediado pela Ivana Arruda Leite ontem no SESC Pinheiros. O debate fez parte da Balada Literária, evento criado por Marcelino Freire que termina hoje. Gostei de ter ido. Assim como em qualquer outro evento que reúne pessoas com os mesmos objetivos, a diversidade de interesses e os diferentes pontos de vista do público leitor expõem as múltiplas cores do universo literário. Os dois falaram sobre suas vidas, como e porque escreveram seus livros, seus prêmios, e etc... Quando o público presente pôde participar, a discussão desviou para a falta de políticas públicas necessárias para a formação de novos leitores. Aí a coisa emperrou. Mesmo que positivamente, porque iniciou-se uma boa discussão. Porque apesar de todos ali presentes serem pessoas bem intencionadas, a falta de objetividade e o excesso de opiniões pessoais interferiu negativamente na discussão. A discussão é necessária, e todos devem opinar. Mas em alguns a necessidade de citar outros escritores que eles consideram ruins ou “menores” para ilustrar o que pensam é muito forte. Paulo Coelho e Jô Soares são os campeões das chicotadas. Eu acho isso desnecessário. Não há razão para se denegrir a obra de um ou outro escritor em público. O gosto do leitor é subjetivo, depende da formação educacional e cultural de cada um. Aquilo que me agrada pode não agradar a outros, mas nem por isso é melhor do que o escritor escolhido pelo outro. Não posso querer impor meu padrão de qualidade. Assim como qualquer tipo de discussão que vai pelo caminho de que é melhor se ler autores nacionais do que os de qualquer outro país me irrita. Isso é mais antigo que acreditar que os Homens são todos iguais. Não somos, e é exatamente essa diversidade que nos faz interessantes. Acredito que entre outras funções (odeio ter que usar a palavra função quando falo de literatura, mas aqui ela é necessária), a literatura ajuda a ampliar os horizontes, a divulgar as diferenças culturais, a variedade de sentimentos que todos os homens sentem independente de raça, cor e de sua posição política. Mas acredito que esses encontros são bons exatamente por isso, porque nos fazem pensar, discutir, notar as diferenças que existem entre pessoas com o mesmo objetivo. Ivana se saiu bem como intermediadora, simples, deixou fluir a conversa e terminou na hora certa, isto é, antes que os ânimos se exaltassem demais.
20.11.08
FACA AMOLADA
O Viaduto do Chá estava lindo e de longe o Teatro Municipal todo iluminado é uma beleza. Cheguei em casa, não fui atacado por ninguém, encontrei minha casa limpinha, agradeci a São Miguel Arcanjo por me proteger de tudo o que vi, tomei um banho e antes de adormecer revi flashes do curta do Gustavo, insetos se transformando, ele se barbeando na frente do espelho, beijando a Juliana que é linda e simpática, as pérolas envoltas em seu pescoço, o escurinho do cinema e depois disso não me lembro de mais nada. Precisava do sono para refazer todas as imagens que meus olhos gravaram durante a noite, sublimá-las para poder suportá-las e continuar a acreditar que a vida real, como no “Pérolas”, também as transformações podem ser positivas. Quero acreditar. Por enquanto.
18.11.08
ESPELHOS
16.11.08
SINAIS
Até pouco tempo acreditei que preferia o ser humano individualmente, aquele que tinha opinião própria, agia por seus próprios impulsos e valorizava sua consciência. Sempre tive aversão à turba, seguidores de ídolos, fãs histéricos, gente que precisa de mais gente para se sentir confortável dentro do seu universo almôndega que criou para viver. Mas hoje, olhando o pico do Jaraguá da minha varanda me veio um pensamento que pode ser óbvio agora, mas que ainda não era óbvio até surgir do nada e materializar-se dentro da minha massa cinzenta: prefiro a idéia que faço do ser humano do que propriamente o que ele é, gosto do que eu acho que ele pode ser. No processo de conhecimento com o indivíduo, construo um outro personagem que pode ser completamente diferente daquele que ele realmente é. As vezes há coincidências entre os personagens, isto é, entre quem ele é e aquele outro ser que eu criei independente da realidade, mas muitas vezes a relação só sobrevive porque eu contribui aperfeiçoando sua personalidade por minha conta. Pensei um bocado sobre isso, até que a névoa cobriu o pico e toda a Serra da Cantareira e eu preferi entrar, fazer um café e ler o jornal.
No Caderno dois do Estadão de hoje há uma entrevista muito boa do escritor Mia Couto. Eu poderia enfatizar “escritor moçambicano”, mas não fiz isso. Não enfatizei sua nacionalidade. Porque apesar de reconhecer que particularidades de um continente, uma nação e uma cultura regional podem interferir e moldam o pensamento de um homem/escritor, acho que Mia Couto extrapola tudo isso, vai muito além, pensa como um cidadão habitante do mundo. E há também uma entrevista com a Monja Coen no meio do caderno dois, ao lado da coluna social. Engraçada essa mistura, nos moldes de a vida como ela é, gente mundana ao lado de uma mulher que dedica todo o seu tempo ao cultivo da vida espiritual. O que não quer dizer que as figuras estampadas na página da coluna social também não busquem conforto espiritual nas horas em que não estão preocupadas com o próprio umbigo. Mesmo assim. Gosto do que ela fala. Da fé que ela tem no ser humano, na evolução da espécie, na idéia de que tudo é passageiro e se renova. Acho importante que ela divulgue sua fé. Sem cinismo ou falta de respeito a Monja (mesmo porque acredito na maioria das “coisas” que ela acredita), tudo é mesmo passageiro, basta imaginar que segundos depois de passar os olhos nas fotos estampadas na coluna social a gente não consegue se lembrar de ninguém que estava lá. E o esforço que fazem para aparecerem de qualquer forma, a todo custo (que as vezes é caríssimo) numa fotinho tamanho três por quatro segurando um copinho. Mas o que importa mesmo permanece. E na maioria das vezes não é palpável, nem passível de registros fotográficos.
13.11.08
A ESSÊNCIA
"É como se eu sentisse a essência dele, tenho até vontade de gritar"
12.11.08
LEITURAS E AS PÉROLAS DO GUSTAVO VINAGRE
10.11.08
HOMO URBIS
Você pode entrar e se sentar numa dessas cadeiras de plástico de um desses botecos das esquinas de qualquer cidade do Brasil. Você pode e todo o mundo também pode. E pode também falar num volume de voz muito alto. Rir muito alto. Gargalhar muito alto. Você pode tudo isso e mais o que achar que pode fazer com sua vidinha descolada. Vai fundo, mas me deixa aqui no meu canto silencioso e limpo. Não traga essa sua idéia de ser feliz aprendida por meio de reclame de cerveja para dentro da minha casa. Não quero. Sinto nojo. Fecho o nariz quando passo em frente a um desses botecos. Não me interessa o que você pensa de mim. Faça a análise que você quiser (se for capaz de). Sou assim. E assado, também sou assim. E não saio em bando. De roupinha igual, e cabelinho, e bracinho que não passa pelo buraco da manga de sua camisetinha. Fecho os olhos para não ver. Viro o rosto. Atravesso a rua. Sinto náuseas. Vá para o inferno e leve todos os seus amigos junto com você.
Você pode ficar aí dentro da sua casa limpinha de cadeiras desenhadas por designers super bem intencionados de qualquer lugar do mundo. Você pode e todo o mundo também pode. E pode falar baixo, colocar a mão na boca quando rir. Você pode tudo isso e mais o que achar que pode fazer com sua vida lounge. Fica aí, na sua sala com música ambiente, mas não me venha dizer o que não devo fazer. Não traga essa sua idéia de ser feliz aprendida das páginas de revistas de decoração para dentro da minha casa. Não quero. Fico constrangido. Não aguento o cheiro do perfume das amostras grátis que vem junto com elas. Não me interesso por nada disso. Não me importa o que seu terapeuta pensa sobre mim. Não gosto que falem de mim. Saio com quem eu quiser. Tenho os amigos que quiser. Vou para onde achar que devo ir.
Você pode ficar aí dentro de sua bolha imaginando que pode ver todo mundo mas que ninguém te vê. Você pode e outros como você também podem. E pode não falar, usar óculos escuros achando que ninguém consegue ver para onde você está olhando. Engano seu achar que sua bolha é impenetrável. Mais do que isso, ela é de sabão. Pode explodir a qualquer momento. Não traga essa sua idéia de ser feliz aprendida nas orelhas dos livros para dentro da minha casa. Não quero. Você fala demais. Sente demais. Pensa demais. Reflete demais. Não dou a mínima para suas receitas de vida extraídas do alfabeto de sopa de letrinhas. Não me importo com o seu projeto de vida ideal. Gosto do que sobra. Do que é supérfluo. Do luxo. Olha... oi... psiu... vai explodir do mesmo jeito.
8.11.08
PENSO, LOGO INEXISTO
Com a diminuição do tamanho das salas de cinema, não preciso falar que quem saiu perdendo fomos nós, os freqüentadores e amantes do cinema. Cinema é tela grande, som de boa qualidade, cadeiras confortáveis e breu. Fica difícil assistir a um filme como o “Climas” numa sala pequena como a de número três do Reserva Cultural. O som da sala ao lado atravessa as paredes e atrapalha quem está assistindo ao filme. Isso acontece em outras salas de outros cinemas também. Como no Unibanco da Augusta, ou no do Shopping Bourbon. Querem economizar, diminuir as salas para poderem exibir mais filmes e perder menos com a redução do número de freqüentadores, um pouco caso total com a qualidade das salas e com o público. Como tudo aqui. Isso faz parte de um pensamento generalizado dos empresários de qualquer negócio que tenha a ver com cultura no país. Não se comprometem com o produto que estão vendendo, querem vender mais, só isso. Funcionários mal preparados, que abrem portas e cortinas das salas antes do filme terminar, que conversam em voz alta do lado de fora. Esquecem (ou não sabem) que a sala onde o filme está sendo projetado é parte importante do espetáculo.
“Climas”é muito bem dirigido, tem ótimos atores e fotografia impecável. É um filme pleno de silêncios, econômico em diálogos, mas tudo tem sua razão de ser. Tem ritmo próprio. Seduz pela qualidade, pela forma, pelo tema. Fala da complexidade dos sentimentos relativos ao amor. É filme para quem gosta de cinema. Tem um Q dos filmes do final da década de setenta, de Antonioni, de Jabor em Eu te amo. Não tem pressa para contar a história que quer contar.
Chovia muito quando saí do cinema. Me refugiei na Fnac da Paulista. No andar de baixo, dos eletrônicos e computadores havia muita gente, no andar de cima, dos livros, alguns gatos pingados. A imagem e o som não precisam de esforço para prender a atenção do visitante. Estão na frente dos nossos olhos e invadem os ouvidos. O livro, você tem que procurar, se concentrar para ler, precisa de tempo para engatar. É um tipo de mídia que nos remete a um outro ritmo. Aquele que escreve e aquele que lê, precisam do silêncio. A gente pode circular por todos esses universos midiáticos, mas quando pega um livro e começa a ler entra num universo próprio, que é particular porque aciona emoções particulares e individuais mesmo que universais.
6.11.08
CLAROS E ESCUROS
4.11.08
FUSÃO E DISFUNÇÃO
Sobre a fusão Itaú/Unibanco, a gente já sabe que será o maior banco do hemisfério sul, que não haverá dispensa de funcionários, que os donos choraram ao lembrarem de seus pai fundadores, que voaram em aviões separados para Brasília para avisar o ministro Meirelles, e que comeram bem casados e tomaram champanhe para comemorar.
Ninguém falou, mas a gente também sabe que o número de funcionários não subirá para que sejamos melhores atendidos, as agencias continuarão tendo entre dois e quatro caixas para atenderem uma fila com mais de trinta pessoas, quando você fizer um crédito e quiser pagá-lo antecipadamente, através de seu gerente você receberá a notícia de que eles não reduzirão os juros e continuarão lucrando bilhões de reais, mais do que qualquer banco em qualquer economia do mundo lucra no ano. Sei que eles contribuem com ações de cunho social, mas fazem pouco, muito pouco se compararmos a exorbitância dos seus ganhos.
Mas tudo bem, você pode sair por aí falando que é brasileiro o maior banco do hemisfério sul.
2.11.08
RAÍZES.
Para quem não conhece e para quem quer conhecer mais, a exposição da Maria Bonomi na Pinacoteca é uma beleza. Conheço algumas pessoas que torcem o nariz para xilogravuras. Diante das obras da Maria Bonomi tenho certeza que o nariz delas dariam nós e congelariam para sempre. Gosto de quase tudo. Se pudesse comprar uma de suas xilogravuras eu compraria. Adoraria poder conviver com uma delas. Cores, texturas, formas, materiais, até os títulos me agradam. Se você ainda não viu, vá ver, é uma oportunidade rara de ver tanta coisa boa junto e de uma só vez. Vai sair de lá mais rico/a, porque andar entre essas obras faz a gente se sentir acumulando valores.
Aproveitei para passear na Praça da Luz, que está linda e bem cuidada. Um prazer observar as raízes expostas dessas árvores tão velhas. Gostaria muito que a prefeitura fizesse mais praças pelas cidades. Mas quero praças com árvores e bancos para sentar. Não precisam de mais nada. Somente caminhos, árvores e bancos. Não precisam de marquises horríveis e concreto para todo lado, nem arquiteto premiado para desenhá-las. Um jardineiro e um paisagista de cabeça boa e simples dão conta do recado. Praças aproximam os moradores da cidade, fazem o cidadão se sentir agregado ao espaço público. Além disso são ilhas de repouso, respiro e contemplação da natureza.
Saio cada vez menos de casa. Não sei o que acontece. Não, não tenho síndrome do pânico e outras doenças contemporâneas. Gosto de sair para tomar um café, ir ao cinema e voltar logo para o meu canto. Saio, vou e volto, relâmpago. Noto cada vez mais o surgimento de cafés pela cidade. Gosto disso. Dos cafés nas ruas e não em shopping centers. Torço para que alguma livraria decente abra no meu bairro Santa Cecília/Higienópolis. Aqui têm duas ou três, mas deixam a desejar. Não vou dar nomes. Mas são fracas e pouco convidativas, ou dentro dos shoppings e são higiênicas, limpinhas, não há aconchego. Não são gemütlich como eu gostaria que fossem. Sim o livro deve ser comercializado como um produto, mas nem por isso deve-se deixar de atender as necessidades do comprador de livros. A apresentação do livro, o espaço onde ele é oferecido e onde o consumidor circula é importante e deveria ser considerado. A única livraria dentro de shopping que eu conheço e que me agrada é a Livraria da Travessa que fica dentro do Shopping Leblon no Rio. Ainda não fui conhecer a Livraria da Vila do Shopping Cidade Jardim. Não sei quando vou. Esses lugares me intimidam. Tirar o carro, atravessar a cidade, enfrentar trânsito, preço absurdo de estacionamento, e uma lista de coisas que me constrangem que gritam dentro da minha cabeça quando penso em ir até lá, ai que preguiça. Fico por aqui mesmo.