10.11.08

HOMO URBIS

Você pode entrar e se sentar numa dessas cadeiras de plástico de um desses botecos das esquinas de qualquer cidade do Brasil. Você pode e todo o mundo também pode. E pode também falar num volume de voz muito alto. Rir muito alto. Gargalhar muito alto. Você pode tudo isso e mais o que achar que pode fazer com sua vidinha descolada. Vai fundo, mas me deixa aqui no meu canto silencioso e limpo. Não traga essa sua idéia de ser feliz aprendida por meio de reclame de cerveja para dentro da minha casa. Não quero. Sinto nojo. Fecho o nariz quando passo em frente a um desses botecos. Não me interessa o que você pensa de mim. Faça a análise que você quiser (se for capaz de). Sou assim. E assado, também sou assim. E não saio em bando. De roupinha igual, e cabelinho, e bracinho que não passa pelo buraco da manga de sua camisetinha. Fecho os olhos para não ver. Viro o rosto. Atravesso a rua. Sinto náuseas. Vá para o inferno e leve todos os seus amigos junto com você.

Você pode ficar aí dentro da sua casa limpinha de cadeiras desenhadas por designers super bem intencionados de qualquer lugar do mundo. Você pode e todo o mundo também pode. E pode falar baixo, colocar a mão na boca quando rir. Você pode tudo isso e mais o que achar que pode fazer com sua vida lounge. Fica aí, na sua sala com música ambiente, mas não me venha dizer o que não devo fazer. Não traga essa sua idéia de ser feliz aprendida das páginas de revistas de decoração para dentro da minha casa. Não quero. Fico constrangido. Não aguento o cheiro do perfume das amostras grátis que vem junto com elas. Não me interesso por nada disso. Não me importa o que seu terapeuta pensa sobre mim. Não gosto que falem de mim. Saio com quem eu quiser. Tenho os amigos que quiser. Vou para onde achar que devo ir.

Você pode ficar aí dentro de sua bolha imaginando que pode ver todo mundo mas que ninguém te vê. Você pode e outros como você também podem. E pode não falar, usar óculos escuros achando que ninguém consegue ver para onde você está olhando. Engano seu achar que sua bolha é impenetrável. Mais do que isso, ela é de sabão. Pode explodir a qualquer momento. Não traga essa sua idéia de ser feliz aprendida nas orelhas dos livros para dentro da minha casa. Não quero. Você fala demais. Sente demais. Pensa demais. Reflete demais. Não dou a mínima para suas receitas de vida extraídas do alfabeto de sopa de letrinhas. Não me importo com o seu projeto de vida ideal. Gosto do que sobra. Do que é supérfluo. Do luxo. Olha... oi... psiu... vai explodir do mesmo jeito.

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