8.11.08

PENSO, LOGO INEXISTO

Com a diminuição do tamanho das salas de cinema, não preciso falar que quem saiu perdendo fomos nós, os freqüentadores e amantes do cinema. Cinema é tela grande, som de boa qualidade, cadeiras confortáveis e breu. Fica difícil assistir a um filme como o “Climas” numa sala pequena como a de número três do Reserva Cultural. O som da sala ao lado atravessa as paredes e atrapalha quem está assistindo ao filme. Isso acontece em outras salas de outros cinemas também. Como no Unibanco da Augusta, ou no do Shopping Bourbon. Querem economizar, diminuir as salas para poderem exibir mais filmes e perder menos com a redução do número de freqüentadores, um pouco caso total com a qualidade das salas e com o público. Como tudo aqui. Isso faz parte de um pensamento generalizado dos empresários de qualquer negócio que tenha a ver com cultura no país. Não se comprometem com o produto que estão vendendo, querem vender mais, só isso. Funcionários mal preparados, que abrem portas e cortinas das salas antes do filme terminar, que conversam em voz alta do lado de fora. Esquecem (ou não sabem) que a sala onde o filme está sendo projetado é parte importante do espetáculo.

“Climas”é muito bem dirigido, tem ótimos atores e fotografia impecável. É um filme pleno de silêncios, econômico em diálogos, mas tudo tem sua razão de ser. Tem ritmo próprio. Seduz pela qualidade, pela forma, pelo tema. Fala da complexidade dos sentimentos relativos ao amor. É filme para quem gosta de cinema. Tem um Q dos filmes do final da década de setenta, de Antonioni, de Jabor em Eu te amo. Não tem pressa para contar a história que quer contar.

Chovia muito quando saí do cinema. Me refugiei na Fnac da Paulista. No andar de baixo, dos eletrônicos e computadores havia muita gente, no andar de cima, dos livros, alguns gatos pingados. A imagem e o som não precisam de esforço para prender a atenção do visitante. Estão na frente dos nossos olhos e invadem os ouvidos. O livro, você tem que procurar, se concentrar para ler, precisa de tempo para engatar. É um tipo de mídia que nos remete a um outro ritmo. Aquele que escreve e aquele que lê, precisam do silêncio. A gente pode circular por todos esses universos midiáticos, mas quando pega um livro e começa a ler entra num universo próprio, que é particular porque aciona emoções particulares e individuais mesmo que universais.

Não sei aonde tudo isso vai levar, o que vejo e sinto é tudo ficando muito a margem do realmente importa. As pessoas se contentando com qualquer coisa que as satisfaçam imediatamente. É a eliminação dos parâmetros. Não se compara porque não se tem conteúdo, não se aprendeu e não se quer aprender. É chato, ou se corre o risco de ficar de fora. Outro dia via um programa, no qual se falou em mediocracia. Gostei do termo, porque ele representa exatamente o que venho percebendo. Para não ficar de fora, o sujeito se enquadra na norma. Isso é antigo, eu sei. Mas tem uma nova roupagem e atinge muito mais gente hoje. E não há problema nenhum também em se aceitar como tal. É engraçado ridicularizar aquele que sabe, ou que se interessa em saber. Não tem nada a ver com relatividade cultural. Mesmo porque, não se pode relativizar o que não existe.

Um comentário:

Marfim Cariado disse...

adoro teus posts