Fazia muito, muito ,muito tempo que não assistia um bom espetáculo no Municipal. “Sansão e Dalila” do Camille Saint-Saëns é uma das óperas que mais gosto dentre as óperas do repertório francês. Porque é rica em todos os aspectos que uma ópera deve conter para ser lembrada como uma grande obra. A começar pelo libreto baseado num trecho bíblico. O povo de Israel prisioneiro dos filisteus que será libertado por um sujeito abençoado por Deus e tem toda sua força concentrada nos seus cabelos. Depois o sujeito poderoso que libertou todo seu povo sendo seduzido por uma mulher, que não é judia, mas exatamente do meio daqueles que até então eram seus opressores. E também a concepção que Saint-Saëns fez para apresentar sua obra: generoso espaço para os coros, tenores e barítonos podem expor suas vozes em diálogos/árias, e meio-sopranos (que eu prefiro às vozes muito agudas das sopranos) que tem a chance de demonstrar todo o seu talento como atrizes e cantoras. O espetáculo que o Municipal está apresentando é muito bem dirigido e produzido. Os cenários (de Helio Eichbauer) são de uma beleza e soluções primorosas. Os figurinos (com exceção das jovens filistéias que mais parecem sevilhanas) são leves e de cores muito bem combinadas. Para mim nessa montagem um ponto negativo foi que em alguns momentos, como por exemplo quando Dalila recebe Sansão e está tentando seduzi-lo, a luz frontal do palco poderia ter sido menos intensa, para contribuir com o clima/ambiente convidativo/vingativo. As vozes: nota máxima para Denise de Freitas (Dalila), perfeita, comovente como Dalila, sabe se mexer no palco e conseguiu me emocionar na ária “mon coeur s’ouvre à toi voix”. A propros essa ária, fiquei pensando com os meus botões; uma ária que tenta convencer um homem do amor de uma mulher, com um apelo emocional extraordinário, mas que no fundo é uma farsa, Dalila na verdade com seu belo canto está trazendo Sansão para a sua desgraça, para sua perdição. O Sansão ( na apresentação que eu vi, Marcello Vanucci) tem uma voz muito boa, mas deve aprender a dominar seus gestos para caracterizar melhor o personagem, por vezes muito duro, gestos abruptos, quase caricato. Sumo Sacerdote (Leonardo Neiva) muito bom. Abimelech (Lucas Debevec ) muito bom. Coro perfeito. Acho que me empolguei, mas é tão raro uma boa ópera em São Paulo que eu quis falar um pouco e recomendar. Sem pretensão, apenas minha visão crítica do que assisti. No todo, foi um prazer. Para quem não gosta de ópera, tem um filme, dirigido e produzido por Cecil B. Demille, com o Victor Mature fazendo o Sansão, que é bem legal de assistir, sessão da tarde, clássico.
25.11.08
PARA OUVIDOS E OLHOS
Fazia muito, muito ,muito tempo que não assistia um bom espetáculo no Municipal. “Sansão e Dalila” do Camille Saint-Saëns é uma das óperas que mais gosto dentre as óperas do repertório francês. Porque é rica em todos os aspectos que uma ópera deve conter para ser lembrada como uma grande obra. A começar pelo libreto baseado num trecho bíblico. O povo de Israel prisioneiro dos filisteus que será libertado por um sujeito abençoado por Deus e tem toda sua força concentrada nos seus cabelos. Depois o sujeito poderoso que libertou todo seu povo sendo seduzido por uma mulher, que não é judia, mas exatamente do meio daqueles que até então eram seus opressores. E também a concepção que Saint-Saëns fez para apresentar sua obra: generoso espaço para os coros, tenores e barítonos podem expor suas vozes em diálogos/árias, e meio-sopranos (que eu prefiro às vozes muito agudas das sopranos) que tem a chance de demonstrar todo o seu talento como atrizes e cantoras. O espetáculo que o Municipal está apresentando é muito bem dirigido e produzido. Os cenários (de Helio Eichbauer) são de uma beleza e soluções primorosas. Os figurinos (com exceção das jovens filistéias que mais parecem sevilhanas) são leves e de cores muito bem combinadas. Para mim nessa montagem um ponto negativo foi que em alguns momentos, como por exemplo quando Dalila recebe Sansão e está tentando seduzi-lo, a luz frontal do palco poderia ter sido menos intensa, para contribuir com o clima/ambiente convidativo/vingativo. As vozes: nota máxima para Denise de Freitas (Dalila), perfeita, comovente como Dalila, sabe se mexer no palco e conseguiu me emocionar na ária “mon coeur s’ouvre à toi voix”. A propros essa ária, fiquei pensando com os meus botões; uma ária que tenta convencer um homem do amor de uma mulher, com um apelo emocional extraordinário, mas que no fundo é uma farsa, Dalila na verdade com seu belo canto está trazendo Sansão para a sua desgraça, para sua perdição. O Sansão ( na apresentação que eu vi, Marcello Vanucci) tem uma voz muito boa, mas deve aprender a dominar seus gestos para caracterizar melhor o personagem, por vezes muito duro, gestos abruptos, quase caricato. Sumo Sacerdote (Leonardo Neiva) muito bom. Abimelech (Lucas Debevec ) muito bom. Coro perfeito. Acho que me empolguei, mas é tão raro uma boa ópera em São Paulo que eu quis falar um pouco e recomendar. Sem pretensão, apenas minha visão crítica do que assisti. No todo, foi um prazer. Para quem não gosta de ópera, tem um filme, dirigido e produzido por Cecil B. Demille, com o Victor Mature fazendo o Sansão, que é bem legal de assistir, sessão da tarde, clássico.
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