2.12.09

CHATO


Gostaria de poder acreditar no Brasil que parte da mídia e da sociedade diz estar bem melhor do que antes. Me esforço para acreditar, mas não vejo sinais que confirmem o tão festejado desenvolvimento econômico traduzido em forma de bem estar. Há pequenas ilhas artificiais nas capitais, onde cenários foram construídos e dão a impressão de que algo mudou, mas eu não me interesso por elas, porque sei que por trás de suas fachadas há outros tipos de miseráveis. São aqueles que fazem de conta que não são. Que fingem morar em Miami ou sei lá onde e pagam um preço que nem eles mesmos conseguem calcular pela brincadeira de faz de conta. Tenho olhos e também consigo ver. Filhos bastardos somos todos nós. Um país dirigido por bandidos, não importa para que lado você olhar, o que vai ver é bandidagem, roubo, quadrilha, gente que se esbalda com o dinheiro público e sabe que não vai ser punido. Basta percorrer as cidades para a gente ver que o dinheiro não está chegando onde deveria chegar, e que o Estado não se faz presente onde deveria estar ou organizar e orientar.

Me enche o saco falar sobre isso, mas tem dias que não dá para reprimir o sentimento de frustração. Deixamos nos enganar por isenções de IPI e matéria elogiosas em revistas estrangeiras de economia, e esquecemos facilmente que faltam escolas, hospitais, transporte e segurança pública. Não consigo entender “bem estar social” apenas pela quantidade de bens de consumo que um cidadão pode adquirir. Acho importante que o maior número de pessoas tenha acesso a bens de qualquer tipo e variedade, mas o que adianta você poder comprar carros e geladeiras se a sua casa é um barraco e seus filhos não tem escola para estudar e se formar? Se o meio de transporte que leva seu filho ao trabalho é um lixo? Ou se precisar de algum tratamento hospitalar, ter que enfrentar os hospitais públicos em péssimas condições de atendimento e qualidade? Tenho a impressão que estamos fazendo uma péssima troca. Ou talvez, o desenvolvimento social tão esperado no Brasil ocorra de modo inverso do que aconteceu com outros países onde educação, saúde, segurança pública são prioridades, isto é, depois que o maior número de brasileiros tiver seu carro próprio, sua geladeira própria, sua televisão própria, ele descubra que precisa aprender a ler para entender as bulas dos remédios ou os manuais de instrução dos aparelhos domésticos que compra.

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