Saí satisfeito da sala do cinema depois de assistir o filme “Abraços Partidos”. Ao contrário da maioria das críticas que li e ouvi sobre o filme, não o considero um filme menor do Almodóvar. Acho que a expectativa que antecede cada novo filme seu é justificável, mas é um erro esperar que eles ainda provoquem os mesmos sentimentos e emoções dos primeiros filmes. Não porque seus novos filmes são menores, mas porque o mundo mudou rapidamente desde o início de sua carreira de diretor de cinema. Pensamos diferente e acredito que Almodóvar também amadureceu como homem e profissional. Seus dois últimos filmes me fazem acreditar nisso. Vejo “Abraços partidos” como um filme feito por um diretor que sabe mais o que quer dizer do que antes. Menos experimental e melhor estruturado do começo ao fim. Talvez tenha perdido um pouco da eloqüência do começo, ou quem sabe a realidade absurda que somos obrigados a viver no dia a dia, tenha nos tornado imunes aos pequenos absurdos que fazem parte do conteúdo de seus filmes. Não sou um profissional que trata das doenças da alma para poder analisar o filme do ponto de vista psicológico, mas acho que o diretor cego que passa a se esconder sob um pseudônimo depois do acidente em que perde sua amada, é um dos exemplos de maturidade alcançada pelo diretor. Ele é obrigado a relembrar sua história, e no final desse processo traumático volta a admitir ser chamado pelo seu verdadeiro nome. Esse jogo de esconde-esconde, de fingir que se é outro homem sob um pseudônimo ou mesmo aparência, não o libera do passado, e muito menos consegue diminuir sua dor. O jogo não é permanente, e nem poderia ser, porque é preciso desvendar o que se escondeu, dura somente o tempo que ele precisa para recontar sua história a ele mesmo, e a nós, que nos propusemos a acompanhá-la. O filme tem um pouco de todas as características marcantes de seus outros filmes: drama, comédia, mulheres esquisitas e homens enigmáticos. Espero ansioso para ver o próximo, acho que ele está cada vez melhor.
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