5.8.10

VAI PRO GOOGLE MINHA FILHA!

Ontem enquanto tentava resgatar as idéias de um conto já em andamento uma outra idéia invadiu meus pensamentos. Não titubeei, abandonei o conto que escrevia e comecei a escrever um outro. Nunca imaginei que isso pudesse me acontecer, sou um escritor que produz em conta gotas, às vezes passo uma manhã inteira escrevendo apenas um parágrafo. Saio muitas vezes da frente do computador, invento mil coisas para fazer, um café, ou me lembro de que fiquei de responder um e-mail, faço de tudo para me distrair. Às vezes me pergunto por que escrevo histórias, por que passo tantas horas escrevendo se não tenho a menor certeza de que alguém um dia lerá o que escrevi. Não consigo encontrar uma resposta satisfatória. Já desisti outras vezes, mas sempre volto ao computador. O escritor é um sujeito invisível, existe a partir de seus livros, há muito mais desprazer durante a escrita do que prazer. Sinto dor nas costas, cansaço físico e mental, mesmo assim insisto em retomar do ponto onde parei, dar sentido e vida aos personagens que inventei. Um mundo a parte, um prazer que beira ao masoquismo, mas que no entanto muito mais se aproxima do voyeurismo, qualquer coisa no meio disso. Agora tenho duas histórias me esperando. Vidas que esperam ansiosas pelos seus destinos.

Hoje as sete e meia da manhã num dos vagões do metro, apenas no quadradinho onde eu estava, naquele espaço vazio em frente às portas, seis pessoas liam concentradas seus livros. Contei e éramos dez pessoas se aglomerando naquele espaço. Seis das dez liam livros, das outras quatro, uma lia uma revista, outra manipulava seu Ipod e outras duas (eu era uma delas) observavam as outras oito. Não é incrível que as sete e meia da manhã as pessoas já estejam envolvidas com histórias criadas por escritores que um dia sequer sabiam que seriam publicados?

Ainda não vi ninguém em público lendo algum livro num Ipad. Algumas pessoas comentam que há um certo constrangimento por parte daqueles que já possuem o livro eletrônico, têm vergonha de exibi-los fora das quatro paredes. Os que não possuem costumam segregar os que possuem, reagem com um certo desprezo, desdenham do dono como se o mesmo não tivesse outra motivação em possuir um Ipad a não ser para mostrá-lo como troféu.

Hoje na aula de redação literária estudamos o estilo das cartas trocadas entre Verlaine e Rimbaud. Em meio à leitura uma das alunas nos surpreendeu ao perguntar se Verlaine era homem. Desconhecia o poeta. Talvez tenha imaginado que Verlaine fosse uma marca de jeans. Constrangidíssima, a professora fez um pequeno resumo antes que pudéssemos continuar. Depois de alguns minutos a aluna perguntou se Rimbaud também era homem. A professora mandou ela entrar no Google para se informar.

3 comentários:

Olenka disse...

Gostei muito!

Sergio K disse...

Eu também de receber a visita de alguém de tão longe! Seja bemvinda Olenka.

Licia disse...

De livro eletrônico em livro eletrônico, vamos ficando parecidos com a coleguinha.
Ainda resisto.
beijos.