20.11.08

FACA AMOLADA

Depois de assistir ao curta do Gustavo Vinagre no Cine Olido, fui até a Liberdade com um amigo para comer alguma coisa num restaurante japonês. O “Pérolas” terminou por volta das oito e meia e resolvemos ir a pé. Para quem não sabe o cine Olido fica no comecinho da São João quase no Vale do Anhangabaú. Então fizemos o seguinte trajeto: Anhangabaú, Libero Badaró, Largo São Francisco, parte traseira da nave da catedral da Sé e pronto, já estávamos sob as portas da Ásia. Não tenho medo de caminhar pelo centro de São Paulo como a maioria das pessoas que conheço, existem muitos bares abertos, freqüentados por funcionários dos escritórios da região. O que me incomoda são as músicas altas, umas competindo com as outras em volume e mau gosto e a cultura do sovaco. Não me sentaria em nenhum deles. Mas a noite a cidade fica ainda mais bonita. Os edifícios estão iluminados e os prédios históricos ganham um charme especial. Muitas novas faculdades estão abrindo pela região e cruzamos com muitos estudantes indo e vindo. Na volta a triste constatação: as ruas se transformam em um albergue a céu aberto, dezenas de seres humanos em condições nada humanas se ajuntam e dormem um ao lado do outro sob as marquises e sobre as calçadas. Não há como não se entristecer. Pelos homens, mulheres e crianças que lá estão, comendo e fazendo suas necessidades no meio da rua/casa, vivendo de restos e da misericórdia culposa dos que circulam pelos seus cômodos/quartos. Não é possível que não se possa fazer nada. Sei que muitos deles se recusam a ir para albergues, mas será que esta é a única solução? Tenho notado o aumento da quantidade de mendigos e pessoas com transtornos mentais pelas ruas da cidade. Pobreza, falta de educação escolar, condições sub humanas, indigência, descaso do município/estado/união são responsáveis por isso. Outro dia passei por um mendigo que defecava na rua no meio da tarde e dos transeuntes. A cena é deprimente e provocou em mim reações adversas que foram desde a raiva e nojo, até a compaixão por aquele ser humano que perdeu (ou talvez nunca tenha tido) seu direito a viver uma vida com condições mínimas de dignidade. Demorei dias para apagar a imagem da minha mente e ainda hoje quando passo pelo local, sinto meu estômago e minha mente revirarem. Pausa para respirar. ................ Ufa....
O Viaduto do Chá estava lindo e de longe o Teatro Municipal todo iluminado é uma beleza. Cheguei em casa, não fui atacado por ninguém, encontrei minha casa limpinha, agradeci a São Miguel Arcanjo por me proteger de tudo o que vi, tomei um banho e antes de adormecer revi flashes do curta do Gustavo, insetos se transformando, ele se barbeando na frente do espelho, beijando a Juliana que é linda e simpática, as pérolas envoltas em seu pescoço, o escurinho do cinema e depois disso não me lembro de mais nada. Precisava do sono para refazer todas as imagens que meus olhos gravaram durante a noite, sublimá-las para poder suportá-las e continuar a acreditar que a vida real, como no “Pérolas”, também as transformações podem ser positivas. Quero acreditar. Por enquanto.

5 comentários:

Anônimo disse...

nossa, desculpa perguntar mas... vc é o sério a quem o caio fernando abreu dedicou o conto "linda, uma história horrível"?

Anônimo disse...

Sim sou, por que?

Anônimo disse...

ah, porque acabei de ler esse conto, vi seu nome escrito lá e fiquei curioso pra saber quem era. pensei algo como: nossa, deviam ser grandes amigos!
podemos conversar por email? oxcarvalho@hotmail.com

luismottacampos disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
luismottacampos disse...

O meu comentário ficou muito grande para caber aqui. Assim, postei no meu blog.